Uma visão reformada da existência

Felipe Quirino
9 nov, 2024
Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”. (1Co 10.31)

Uma cosmovisão (ou visão de mundo) é composta por fatores produzidos em nosso coração; às vezes conscientemente, outras inconscientemente. As cosmovisões também têm um caráter particular e outro público; este último refere-se a elementos que são compartilhados com outras pessoas.

Como afirma Philip Ryken, “o que escolhemos adorar importa terrivelmente e sempre está vinculado a toda a nossa perspectiva do mundo”. A maneira como pensamos demonstra claramente em que cremos e a quem oferecemos adoração.

A cosmovisão cristã une espiritual e intelectualmente todos aqueles que foram alcançados pela verdade absoluta e libertadora de Deus. Cônscios de sua cosmovisão, que procede de um coração transformado pelo evangelho, os cristãos demonstram em suas ações todas as bases do Evangelho que têm aprendido a partir do estudo da Palavra de Deus.

Deus é o centro de uma cosmovisão sadia. Conhecê-lo e nele crer com toda a confiança são as duas ações primordiais de uma pessoa que vê o mundo sob uma perspectiva cristã. Conquanto isso seja necessário, é importante definir que Deus não existe como fruto da invenção e especulação humanas. Pelo contrário, Ele é autoexistente e o que dele se pode conhecer foi revelado por Ele mesmo.

O cristão que pauta sua vida pelo que o Senhor revelou em Sua Palavra deve interpretar sua existência, aplicando em seus relacionamentos uma estrutura edificada sobre quatro pilares, a saber, criação, queda, redenção e consumação.

Entendemos que o mundo foi criado por Deus e que tudo o que existe foi chamado por Ele à realidade a partir do nada, somente pelo poder de Sua palavra. Parte dessa criação é a gloriosa existência de homem e mulher, criados distintamente do restante dos outros seres, pois foram feitos à imagem e semelhança de Seu Criador. Essa criação foi categorizada pelo próprio Senhor como “muito boa” (Gn 1.31; Ec 3.11; Cl 1.15-17).

Também entendemos que o homem, criado plenamente perfeito com a capacidade de decisão, tinha, inclusive, a possibilidade de desobediência diante das requisições e ordenamentos dados por Deus no Éden. Diante da tentação, os primeiros humanos e, juntamente com eles toda a humanidade, desobedeceram a Deus, seguindo seus próprios pensamentos, tentando inclusive reorganizar a criação divina, trazendo grande destruição. A isto chamamos queda (Ec 7.29; Rm 3.9-18).

Além disso, entendemos que o Senhor Deus, criador dos céus e da terra, revelou Sua muita misericórdia ao redimir muitos da situação de queda, dando-lhes um representante santo, obediente e fiel, Seu unigênito Filho, Jesus Cristo. Por meio dele, a salvação é garantida e a vida eterna na presença de Deus é conquistada (Lc 1.67-79; Cl 2.6-15).

Por fim, a partir do ensino da Palavra de Deus, cremos que o plano eterno do Senhor será consumado, quando o Rei dos reis, Jesus Cristo, retornar para julgar vivos e mortos (Jo 14.1-3; Ap 21.1-7). Considerar esse pilar em nossa cosmovisão faz-nos compreender que a maneira como vivemos o presente terá consequências futuras, pois nosso Redentor voltará trazendo consigo a consumação de todas as coisas. Parte integrante desse evento será o juízo final, onde todos, sem exceção, prestarão contas diante de Deus.

O julgamento trará condenação eterna àqueles que se rebelaram contra Deus, ao mesmo tempo em que trará vida eterna na presença Dele a todos os salvos em Cristo Jesus. Nosso Deus é o Criador, o Redentor e o Consumador de toda a existência.

Diante disso, podemos perceber a influência da Reforma para a cosmovisão cristã, pelo fato de que, mediante o estudo aprofundado da Palavra, a vida cristã passou a ser centrada na Bíblia. Os redimidos em Cristo interpretam as circunstâncias a partir de um coração transformado. Sendo assim, pensam e agem centrados na Palavra (Sl 1; Mt 6.24-34; 1 Pe 3.13-22).

Toda a glória seja dada ao nome daquele que nos amou e enviou Seu unigênito Filho, para que tivéssemos, no presente tempo, paz com Ele e, no futuro, vida eterna!