Por que batizamos crianças?

Felipe Quirino
14 jul, 2024

O batismo em crianças, ou pedobatismo, é uma prática bíblica retomada pelos reformadores.

Cremos que nos tempos do Novo Testamento os filhos de pais crentes, na faixa etária da infância, eram batizados juntamente com eles, seguindo a orientação do apóstolo Pedro que respondeu aos convertidos na festa do Pentecostes da seguinte maneira: “Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar” (At 2.38–39).

O batismo não é mera prática, com vistas a distinguir uma igreja de outra. É, antes, uma prática fundamentada na doutrina bíblica da Aliança, a qual nos ensina que o Senhor, nosso Deus, estabeleceu um pacto com seu povo, tendo Jesus Cristo como suficiente e eficaz mediador, e o estende à descendência deste.

Ao lermos o texto acima, nos deparamos com a afirmação categórica de Pedro “para vós e para vossos filhos é a promessa”. Lucas utiliza essa palavra nove vezes em dois principais contextos nos dois livros que foi inspirado a escrever (o Evangelho segundo Lucas e Atos dos Apóstolos), quais sejam:

  1. a promessa, significando o envio do Espírito Santo aos discípulos de Jesus, após sua assunção (Lc 24.49; At 1.4; 2.33);
  2. a promessa, significando a aliança de Deus com seu povo e sua descendência no decurso das gerações, de lhes conceder descanso completo e eterno (At 2.39; 7.17; 13.23; 13.32; 26.6).

É nesse segundo contexto que a ordenança para batismo se encontra.

Cremos que o batismo é o sinal neotestamentário que representa a marca do povo de Deus. Esse sinal foi ordenado pelo Senhor, também, no Antigo Testamento, quando a circuncisão foi instituída. Lá, não apenas os homens adultos deveriam ter o sinal. Além deles, seus filhos homens a partir de 8 dias, deveriam receber o sinal externo da aliança de Deus com Abraão e sua posteridade (Gn 17.1-14).

No entanto, antes mesmo de receberem esse sinal na carne, ou mediante a água, o Senhor firmou uma Aliança com o seu povo, representado em Noé, e estabeleceu o arco nos céus com o sinal externo de que o próprio Deus cumpriria os termos daquele pacto e derramaria a promessa sobre seu povo.

Retrocedendo uma vez mais, vemos a promessa que o Senhor fez anunciando que o descendente da mulher, o mediador, iria destruir as obras da serpente e sua descendência (Gn 3.15). Após essa promessa, o Senhor cobriu a Adão e a Eva com peles, sinal que eles teriam diante de si da misericórdia que os assistiu naquele momento. Além disso, o Senhor os expulsou do jardim, com vistas a redimi-los, dando sequência ao seu plano.

Sendo assim, cremos que Deus tem uma aliança com o seu povo espalhado pela face da terra e de todos os tempos, sendo, atualmente, o batismo o sinal externo dela.

Portanto, quando trazemos nossos filhos ao batismo, não repetimos um rito da religioso como um fim em si mesmo, mas como uma profissão de fé dos pais que creem em Deus e em suas promessas, bem como uma declaração solene de que desejam que as bênçãos da aliança sejam administradas sobre seus filhos, através dos méritos de Cristo.

As bênçãos do pacto para as crianças servem como preparação de seus corações, para que vejam as grandezas de Deus e como ele se relaciona com seus pais. Essa preparação encaminhará as crianças até o momento em que crerão e professarão a fé em Cristo Jesus, o mediador da aliança.

Por que batizamos crianças? Não queremos que eles participem da mesa do Senhor sem discernimento. Não cremos que eles, na faixa etária da infância, tenham a condição de declarar crer em Cristo como salvador de suas vidas, sem que antes sejam preparadas para tal. Então, por quê? Fazemos isso, crendo que as bênçãos da salvação que o Senhor administrou sobre nossa vida se estendem aos nossos filhos e assim, enquanto são preparados no caminho da fé em Cristo, eles recebem bênçãos vindas do Deus da Aliança.

“Logo, aqueles que abraçam a promessa de que a misericórdia de Deus se propagará a seus filhos devem apresentá-los para que sejam marcados pelo símbolo da misericórdia; e com isso sua fé seja consolada e corroborada, ao ver com seus próprios olhos a aliança do Senhor selada no corpo de seus filhos” (Institutas IV, xvi, 9).